Câmeras e Skydiving – Check List

Câmeras e skydiving é um assunto que muita gente trata como se não fosse algo complexo. Ainda mais nos dia de hoje, com as câmeras ficando cada vez menores, o que poderia dar errado? Hummm… 

Vamos lá, neste artigo espero conseguir passar alguns pontos para aqueles que planejam colocar uma câmera no capacete em algum momento e para aqueles que já colocaram e de repente não consideraram algumas coisas.

Antes de começarmos a falar de equipamento, gostaria de introduzir um conceito que se chama memória muscular.

Memória muscular é a habilidade de reproduzir movimentos sem pensar e isso é feito através de repetição, muita repetição. 

Andar de bicicleta, dirigir um carro são exemplos do uso da memória muscular. 

Quando estamos aprendendo a dirigir, tudo é muito novo. Você pensa em todo e qualquer movimento antes de executá-lo, pisar na embreagem, passar marcha, dar seta, olhar nos retrovisores, acelerar, freiar. Ou seja, durante o seu curso de direção, você não aprendeu a dirigir e sim a usar esses movimentos e para que eles servem. Aprender a dirigir bem, começa depois que você pega a sua carteira e assim que o número de repetições aumenta, cria-se a memória muscular e depois de um tempo, você nem pensa mais e dirigir se transforma em algo natural.

Com o skydive é a mesma coisa, você termina seu AFF, vai fazer os saltos solo para treinar ainda mais a sua mente e começar a criar essa memória muscular.  Quanto mais você saltar neste começo, mais rápido a memória muscular será criada. 

E isso explica também o por que devemos começar saltando de barriga e não ir direto para o freefly por exemplo. O salto de barriga é o salto mais lento, onde você cai por mais tempo e tem a possibilidade de desenvolver mais as suas habilidades e ser um paraquedista mais seguro. É o momento de construir a base de tudo e lá na frente pode fazer toda a diferença. 

Criar uma memória muscular no skydive leva tempo e muita repetição e adicionar uma câmera pode ser arriscado para você e para os outros. Por isso quis introduzir esse conceito antes de entrarmos no assunto.

Com esse conceito introduzido, vamos falar de alguns pontos a se considerar antes de colocar uma câmera na cabeça e começar a filmar os seus saltos.

Riscos

Alguns cuidados básicos estão sendo esquecidos na hora de passar um briefing a atletas que estão começando a usar câmeras. 

Perda de consciência de altitude, colisões e esquecer de fazer os checks do equipamento são fatores que contribuem para um salto perigoso. Estamos tão preocupados com a câmera que o resto começa a ficar secundário. Um número alto de pilotinhos que ficaram presos em câmeras também aumentou. (Estatística da USPA)

Quando colocamos uma câmera na cabeça, nos preocupamos em ver se a câmera está ligada antes da porta abrir, posicionar a câmera para enquadrar o salto, e durante o salto queremos estar naquela posição perfeita para pegar aquele ângulo irado. Isso adiciona e muito ao salto.
Em regra geral, 200 saltos é o número onde as associações de paraquedismo ao redor do mundo autorizam um atleta a entrar no mundo das câmeras e a colocar uma no capacete. No Brasil são 50 saltos, Categoria B. E não é porque a regra está lá que não devemos nos perguntar: Será que estou preparado para colocar uma câmera na minha cabeça?

Com 50 saltos você ainda não desenvolveu uma memória muscular do tempo de queda livre, seus hábitos ainda não foram construídos. Frequência, procedimentos e repetição são o segredo para se transformar em um paraquedista mais seguro. Acha mesmo que você já tenha repetido toda a sua rotina o suficiente para criar essa memória, ao ponto de ser automático? Tenho certeza que não. 

Agora que você já sabe dos riscos, segue um checklist para te ajudar.

Segurança e o uso da câmera 

• Briefing – receba um briefing de um câmera man experiente da sua DZ
• Skydive e procedimentos primeiro, câmera em segundo
• Use o capacete na cabeça, fechado, durante a decolagem
• Salte com poucas pessoas e conheça a habilidade de todos no salto, pelo menos no começo 
• Um sistema de desconexão do seu capacete é altamente recomendável
• Se algo acontecer esteja preparado
• Um altímetro sonoro é essencial
• Esteja familiarizado com as funções da câmera 
• Cuidado ao abrir a porta e ao sair do avião, seu capacete está maior e se bater na porta, a câmera já era

Montando sua câmera 

• O seu capacete é firme na sua cabeça? Deveria ser, independentemente se vai usar câmera ou não.
• Qual o peso da câmera? Bem provável que seja apenas uma GoPro, mas sempre leve isso em consideração se for adicionar mais câmeras mais para frente, uma abertura forte com 800g a mais pode fazer estrago.
• MARD, sim ou não? Se na abertura uma linha ficar presa em volta da sua câmera, vai desconectar se o MARD tiver conectado?
• Procure por lugares onde uma linha/bridle do seu velame possa vir a ficar presa no seu capacete. No momento de montar a sua câmera, converse com alguém mais experiente para te ajudar neste processo. 
• Tenha certeza que a câmera esteja segura.
• Se for uma luva handycam, coloque seu equipamento e veja se está interferindo com os punhos.
• Na hora da abertura você coloca a mão nos tirantes? E agora quando for usar essa luva handycam, se tiver um twist, já pensou nisso?

É bem provável que a sua câmera seja apenas uma GoPro e que se algo acontecer, irá quebrar e o único prejuízo será a câmera e rezar para que não caia na cabeça de alguém ou destrua uma propriedade de terceiros. Mas se fossemos pensar apenas nos melhores cenários possíveis carros não teriam airbags e aviões não teriam colete salva vidas. 

A melhor coisa a se fazer é se preparar e montar seu capacete com alguém mais experiente, pergunte, pegue dicas e escute as pessoas.

Voar bem com uma câmera leva tempo e prática, seja paciente e priorize a sua e a segurança dos outros.