E se….
Um dia você comanda mais baixo, perde consciência de altitude e se depara com os dois velames abertos?
Nesse artigo vamos falar de um relatório que a PD escreveu muitos anos atrás, mas que continua bastante relevante para situações onde o atleta se encontra com dois velames abertos.
Relatório da Performance Designs (1997)
Em 1995 a PD fez uma série de testes para o comitê técnico da PIA (Parachute Industry Association) com o intuito de investigar as características de voo de dois velames quadrados ao mesmo tempo. Os testes levaram em conta alguns estudos executados pelo exercito militar americano em 1992 e um cara chamado Scott Miller em 1992/3. Nesses eventos, foram usados uma combinação do reserva e principal em diferentes tamanhos – principal grande/reserva pequeno; principal pequeno/reserva grande; principal pequeno/reserva pequeno.
Novos sistemas foram criados para fazer esses testes. Equipamentos com três ou quatro velames de forma que a sequência de abertura, desconexão fossem próximas de um equipamento normal.
Apesar dos testes terem sido feitos há 20 anos atrás, esses dados continuam sendo relevantes para caso aconteça de ter dois velames abertos. Uma observação: Os testes e estudos não foram feitos em velames de alta performance e não foi usado nenhum tipo de MARD. Se você não sabe o que é um MARD, clique aqui e confira nosso artigo falando sobre o assunto.
Esses equipamentos podem mudar os procedimentos de emergência e ações requeridas. Se informe e leia o manual do fabricante e o mais importante, troque ideia com atletas e profissionais, velame de alta performance é realmente outra conversa.
Conclusão 1
A melhor maneira de lidar com a situação de dois velames abertos é não deixar acontecer. Básico. Use equipamentos para te ajudar a manter a consciência de altitude como altímetros sonoros, aumente o volume se necessário e tem gente que usa até dois sonoros. Algumas escolas de Freefly exigem essa configuração.
Leia o manual do seu DAA, saiba a altura de acionamento, entenda e sempre cheque seu equipamento e a manutenção em dia.
Tamanho do Velame Reserva
Algumas pessoas acreditam que escolher um reserva menor do que o velame principal é o ideal. Enquanto isso parece ser o mais seguro, não é necessariamente verdade. Por exemplo: um PD-143R tem linhas mais curtas do que um Stiletto-135, essa configuração voou bem com o velame principal na frente.
Velames de 7 células geralmente tem linhas mais curtas do que os velames de 9 células.
Como mencionado acima, várias configurações foram usadas durante os saltos de testes. Uma diferença de 100 pés entre principal e reserva não é recomendado.
Conclusão 2
Cuidado ao escolher seu equipamento. Escolha velames que não tenham tanta diferença em tamanho. Uma regra geral é escolher o tamanho do velame reserva parecido com o do seu principal. E mais uma vez, se você voa um velame de alta performance a história é outra.
Cenários Comuns com Dois Velames Abertos
Em ordem de probabilidade:
- Biplano
- Lado-a-lado
- Downplane (um voando para cima e outro para baixo)
- Trailing (quando um velame está aberto e o outro começa a abrir atrás de você)
- Velames embolados
Biplano
O cenário mais provável é o do biplano, onde o velame reserva e o principal voam juntos um na frente do outro. Geralmente acontece quando são abertos simultaneamente. O principal na frente do reserva. Essa configuração é estável e fácil de controlar. O método recomendado de voo é não desfazer os freios do velame de trás e controlar o velame da frente com movimentos leves com os batoques.
Durante os testes onde os dois velames eram compatíveis em relação ao tamanho, não foi necessário tentar mover o biplano para o lado-a-lado para desconectar o principal. Nas tentativas de mover um velame ou o outro, eles sempre tentaram voltar a posição de biplano.
Desconectar enquanto essa tentativa de separação ocorre, poderia ser perigoso. Não faz sentido mudar uma configuração de biplano que está voando reto e pode ser pousado com segurança. Você ainda não corre o risco de perder seu velame.
Pousar um biplano com os dois velames abertos foi provado que é uma tarefa fácil – em todas as configurações testadas – carga alar alta e baixa.
Fazer o flare no velame da frente não demonstrou ser muito eficiente pois a razão de queda é baixa. Foi concluído que o melhor a se fazer é o rolamento.
Conclusão 3
Voe o biplano, use movimentos leves com os batoques do velame da frente e prepare para o rolamento no pouso.
Lado-a-lado
O segundo cenário mais provável de acontecer é os dois velames abertos lado-a-lado. Os tirantes do velame principal atrás dos tirantes do velame reserva; os dois voando na mesma direção. Geralmente encostando um no outro ou o velame com as linhas mais curtas encostando nas linhas do velame de linhas mais longas.
Um fato interessante durante os testes, independentemente da ordem de abertura, o velame com as linhas mais longas sempre ficou atrás. Com exceção no cenário de um downplane. Vamos falar sobre isso mais abaixo.
Na maioria das vezes, os dois velames abertos lado-a-lado foi fácil de controlar com movimentos leves nos batoques no velame dominante, provável que seja o velame maior. Não é recomendado voar com os quatro batoques. Em um dos saltos, foi feita a tentativa de fazer o flare com os quatro batoques e imediatamente os velames começaram a bater um no outro. Não recomendado.
Tentar fazer o flare com os batoques que estão expostos no lado de fora de cada velame também não é uma boa ideia, podendo causar um downplane. É importante frisar para voar apenas o velame que está na frente ou o velame maior/dominante. Os dois velames abertos lado-a-lado é uma configuração mais sensível do que a Biplano, principalmente se os tamanhos dos velames forem muito diferentes. Esse cenário requer ainda mais cuidado com os movimentos com os batoques. Você não quer que isso vire um downplane quando estiver baixo.
Desconectar o velame principal pode ser uma opção desde que não exista nenhum problema com o equipamento e que nada esteja embolado. Se você usa um MARD, entenda seu equipamento e saiba o que fazer em cenários como esse. Se a sua carga alar é alta, bem provável que desconectar o principal seja a melhor solução. Se decidir pousar, prepare para o rolamento.
Conclusão 4
Em um cenário de dois velames abertos lado-a-lado onde o atleta consegue controlar um dos velames usando os batoques suavemente, não faça o flare, prepare para o rolamento.
Caso não consiga controlar, desconecte o MARD, cheque o equipamento, se as linhas não estão emboladas e desconecte o principal se a altitude permitir.
Down Plane
Um cenário um pouco menos provável, mas não impossível é o downplane. Os dois velames abertos voando separadamente, rodando em direção ao chão. Durante os testes, aberturas com twists no principal quase sempre ocorreram, principalmente quando o velame principal era o segundo a ser aberto.
Na maioria dos testes, assim que o downplane começava, rapidamente evoluia para um cenário de velames lado-a-lado sem nenhum comando do piloto. Nos casos onde o downplane não virou um lado-a-lado ficou a dúvida se essa situação poderia ser reversível ou não.
A razão para esse cenário acontecer na vida real, é a ativação do DAA, ou seja, o atleta não teria muito tempo para tentar reverter e desconectar rápido seria iminente. Tudo acontece muito rápido
Conclusão 5
No caso de downplane, desconecte o MARD, se a altitude permitir, desconecte o principal.
Trailling
Vou começar dando um exemplo: Você comandou baixo, abriu o seu principal, mas o seu DAA foi acionado, você está lá fazendo seus checks e olha para trás e vê o seu reserva dentro da bolsa balançando no seu vácuo. Isso é trailling.
É um outro cenário comum que pode acontecer. E se nada for feito, um dos cenários acima é inevitável.
Se o velame ainda se encontra dentro da bolsa, é possível tentar puxar com as mãos para controlar a situação. Mas se o velame estiver começando a inflar, é melhor esperar para lidar com a situação. Muito cuidado!
Durante os testes, um dos pilotos segurou a bolsa até chegar perto do pouso, quando a mesma escapou das suas mãos, fazendo com que o velame inflasse e um downplane se formasse. O piloto se machucou.
É recomendado desconectar se for o velame principal e prosseguir com muita cautela se for o velame reserva. O que vai fazer na hora do pouso? Precisa das duas mãos para fazer o flare, lembra?
Conclusão 6
Se o velame principal abrir e o reserva estiver em um estágio de abertura, talvez seja melhor ajudar a abertura chacoalhando os tirantes. Esteja preparado para lidar com um dos cenários mencionados acima.
Se o reserva abrir e o principal iniciar a abertura depois, desconecte o MARD e o principal.
Velames Embolados
Durante os testes, aconteceram aberturas simultâneas que resultaram nos dois velames abertos embolados. O reserva abriu diretamente no velame principal, segurando o slider e atrapalhando o velame a inflar. O piloto tentou puxar os tirantes mas devido ao giro criado, devido a situação, decidiu desconectar após 6-7 giros. Lembre-se que os equipamentos de teste tinham 3-4 velames.
Após avaliar a situação, pensamos que se o velame principal fosse desconectado, poderia existir uma chance de salvar a situação. De qualquer forma isso é apenas especulação.
Conclusão 7
Se o reserva embolar no principal, faça o que for possível para salvar a situação puxando os tirantes/batoques. Cuidado ao tentar desconectar o principal imediatamente, isso pode piorar o problema.
Você pode ler o relatório completo da Performance Designs clicando aqui.
Espero que tenham gostado e absorvido bastante informações nesse artigo. As vezes pensamos que certas situações nunca vão acontecer com a gente. Mas a verdade é que desde do cara mais experiente até do atleta que acabou de começar a saltar, todos correm o risco.
Bons Saltos!
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